Era inescrupulosa. Gostava de acreditar na ideia de que "os fins justificam os meios". Era só. Só de si. E, claro, sempre mal falada pela redondeza. Seu nome ninguém sabia, mas foi batizada Bárbara, somente para os não tão íntimos.
Vestia-se como um homem e agia como tal, andava pelas ruas pouco se importando com as janelas entreabertas que sussurravam as hipóteses sobre "o que" era ela.
Dia desses, andando despreocupado pela calçada, eu a vi. Saía da igreja resoluta, sem manto algum escondendo aquele rosto cheio de marcas. As janelas ainda a fitavam. Vinha com a mão esquerda no bolso, e uma sacola de pedras na outra mão. Fazia como João e Maria, a cada passo, uma pedra no chão, construindo um caminho. As botas de couro combinavam com toda a dureza daquele ser. A única marca fora do lugar, eram aqueles cabelos negros até o ombro, fechando mais ainda seu rosto. Parei de andar e passei a observá-la. Parecia que chorava, embora aquele sorriso de Monalisa não deixasse seu rosto por instante algum.
O caminho de pedras formava um círculo e, calmamente ela se colocou em seu centro. Quando vi, aquela grande sátira da sociedade estava prostrada em meio ao asfalto daquela rua. Virava-se para olhar cada janela com seu rosto vazio. E, de repente, os cabelos negros estavam no chão. Sem mais nada que pudesse definí-la como uma critatura, apesar de tudo, delicada, caiu a desgraçada no chão. Desgraçado. As janelas, então espantadas, gritavam em histeria: "Bárbaro!". E eu chorava.
Pode até ser que um dia um dasacato me derrube, me deixe sem forças para seguir em frente, ou até mesmo desarrume as minhas idéias, mas este seu "Desacato" minha lindinha, atingiu o alvo do meu querer bem esse dizer as suas marcas poéticas. Assim... feito passarinho no ninho, eu quis ficar a ler e reler esse teu autotexto. Obrigada por me manter alimentada do teu dizer as coisas.
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