Podem ligar as câmeras e os holofotes, pois a atração da
semana chegou. Eu poderia começar dizendo que a mídia novamente conseguiu
manipular muito bem as mentes “ingênuas” de metade da população, mas recairia
sobre o mesmo erro do qual vim falar aqui. Na verdade, somos a parte de um todo
que já não me arrisco a chamar de “sociedade”, um todo habituado com a “lei do
bode expiatório”. Simplificando, se errar já é humano, achar alguém pra colocar
a culpa é mais humano ainda.
Nos últimos dois dias, o assunto mais comentado nos
noticiários, redes sociais e bate-papos no meio acadêmico é o caso de uma
professora da Universidade do Estado do Pará que, por motivos que não nos
convém detalhar, teria chamado o vigilante da referida universidade de “macaco”.
O caos se instalou pelo fato do vigilante ser negro. A professora foi acusada
de racismo e a situação repercutiu ao ponto de ir parar em jornais nacionais.
A indignação de todos é realmente admirável, levando em
conta que nós, como exímios exemplos de cidadãos morais e éticos, não
praticamos quaisquer atos de preconceito no dia a dia, sequer em momentos de
extrema revolta. Se minha ironia foi passível de compreensão, pergunto agora
quem somos nós para “jogarmos no lixo” o diploma de alguém? Longe de mim, ainda
que pareça, aplaudir a atitude da professora, no entanto alguma reflexão tem de
ser feita sobre nós mesmos e sobre o que estamos fazendo em cada situação como
esta.
Quero dizer, a impressão que dá é que estamos à beira de um
ataque diário, sempre em busca de um motivo para cuspir todas as raivas
contidas, as angústias, as revoltas... já que somos obrigados a balançar a
cabeça todo tempo pra tudo que nos é mostrado como certo ou como verdade
absoluta. Daí surge um alvo fácil para servir de “bode” às nossas raivas.
Surge, como diria Chico Buarque, uma Geni para apedrejarmos. Pois não nos basta ver o culpado se acabando,
lambendo a própria culpa... é preciso mais, sempre mais. Falta pisar, linchar,
humilhar um pouco mais porque nada é suficiente. Errou? Pague por isso e da
pior forma possível.
E enquanto o “resto” dos problemas à nossa volta torna-se
realmente RESTO, nos contentamos em sentir que somos moralistas, ativistas,
políticos, jovens informados e adultos em busca de uma sociedade mais humana,
no momento em que apontamos o dedo e gritamos todos os palavrões que nos vêm em
mente. Mas estamos sendo justos. Em um conceito de justiça no qual a violência,
a estupidez e a covardia atraem mais atenção dos olhos e da mente que a
verdadeira arte de “ser humano” além de “ser vivo”.
Que a ética venha a nós, já que não conseguimos ir até ela.
Adorei teu texto, e a reflexão crítica deveria ser divulgada. Vou compartilhar ok?! Continuo tua fã!!
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