sábado, 17 de março de 2012

Jet'aime

Não era amor e eu sabia disso. Mas era bom. Era vento de chuva no fim da tarde. Era cheiro de grama molhada. Era um tormento cheio de paz, sabe? Não sabe? Bom, vou tentar explicar... Como o sorriso bobo que se dá sozinho ao lembrar de um momento bom; o frio na barriga aos 15 anos quando o cara do 2º ano te olhou; como a sensação mais gostosa do mundo ao terminar um livro bom; como o suspiro da preguiça após acordar; o abraço apertado; o cheiro daquele dia que você não vai esquecer; como a piada sem graça que te faz morrer de rir; a música que te acalma; a mensagem que surpreende; o carinho guardado, a lembrança doce... Pois é, ele era tudo isso para mim! Toda paz que me causava agonia extrema. Mas não era amor, isso eu sei. Só era bom estar perto. Ouvir a voz. Saber do dia. Tocar o rosto e os cabelos. Sentir o perfume. Brigar por bobagens. Era bom, sim.
Pretérito Imperfeito.
Por que pra mim nada acaba completamente. Ainda que pra ele sim. Ainda que o "perto" não faça mais parte. Ainda que o "bom" não seja mais tão concreto. Eu guardei-o numa caixinha com o nome dele. É que, como sempre, eu estraguei tudo. Eu e a minha boca grande. Esquecemos que falar dessas coisas - do quanto alguém pode ser bom pra gente, bom da gente querer perto, mesmo sem ser amor - pode meter medo nos outros. É claro que esse "outros", na verdade, é ele. Então, eu tive que guardar o frio na barriga, o sorriso bobo, a saudade e a vontade de rir acompanhada dentro de uma caixinha. Mas a vida, traíra como ela é, de vez em quando tira a tampa da caixinha sem querer, aí aquelas coisas todas voltam e eu já não sei ao certo o que fazer com elas.
Esquisito esse jeito das coisas serem, de uma hora pra outra um presente vira passado e a gente se perde pelo caminho. Eu ainda tento catar aquilo tudo que vai ficando pelos cantos, mas uma coisa não dá pra juntar e recuperar- aquele olhar doce, trocado nas manhãs que, embora cinzentas, ganhavam cores. O olhar, até hoje, ainda procuro... Vai ver ele esqueceu por aí. Vai ver que todo amor que eu sei que não era, ficou esquecido junto com ele.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Abraço de urso.

Tenho uma relação doentia com abraços. Uma paixão, dependência, desejo, uma saudade incomensurável. Fome. Abstinência. Nos abraços eu me encontro, me acolho, reviro passados, planejo futuros... Porque os abraços contam histórias. Quando os braços se unem, os corações conversam. E coração tem tanto a dizer, só que fora dos abraços ele se inibe e a gente não diz nada. Por isso eu gosto tanto de abraçar, adoro ouvir os corações falando e descobrir os mundos que cada um percorreu. Quando encontro alguém que não vejo há muito tempo... Eu corro pra um abraço, daqueles que não dá vontade de largar mais. Dá vontade de absorver cada pedacinho do outro, e guardar uns pra si, levar pra casa aquele momento único de dizer tudo sem falar nada. Tenho alguns "abraços de urso" na minha vida, e eles são sagrados. Se eu pudesse trocava todos os meus ursinhos de pelúcia por eles e os colocava na lateral da minha cama, para todas as noites dormir dentro do abrigo aconchegante do abraço de amor, de amigo. Quisera eu não precisar sentir saudade dos abraços, sequer dos donos deles. Mas meu coração clama por uma conversa aqui e ali. Sabe como é, ele é tão falante quanto eu e quase sempre sente falta de companhia... Tenho um coração carente e um corpo e mente sedentos pelo momento sublime de me esconder na solidão de um abraço, é ali que me completo. Definitivamente Martha Medeiros foi feliz demais ao dizer que o melhor lugar no mundo para se estar é dentro de um abraço, lá tudo se dissolve.
Às vezes eu pareço até meio jogada, porque não posso ver um ombro livre e já deito a cabeça pra ver se ganho um braço em volta do corpo... Ah, sabe como é, as preliminares. E não é que às vezes dá certo? Então, não peço que me compreenda nessa minha normalidade louca de gostar de me abrigar nas pessoas, eu devo é levar muito a sério aquela história de "morar no outro". Na verdade, isso tudo aqui, é uma forma de dizer "olha, se qualquer dia desses eu te encontrar por aí, por acaso da vida ou acaso marcado, não se assuste se eu buscar toda a energia contida em mim pra te envolver nos meus braços com toda força do mundo. É que eu preciso te sentir, com tudo que há de bom em mim, e tenha certeza que logo depois eu vou sentir saudades, voltar pra casa com gostinho de quero mais, torcer pra que, em breve, eu me abrigue em você e você em mim."

Trecho.


Tomar um porre de lágrimas seria uma boa. Como qualquer bebida, cada gole teria um significado. Um passado saudoso. Um futuro sonhado. Um presente incoerente. Cada gota de lágrima me levaria mais fundo a isso que vocês chamam de "embriaguez". Uma fuga do mundo. Uma fuga de gente. Fuga de todo sagrado ou profano que persegue a minha solidão quando só preciso dar uns abraços nela. E quando, enfim, a quantidade de lágrimas bebidas conseguisse me fazer tropeçar nas palavras, nas tão traiçoeiras palavras que escondem a minha solidão para que eu não a encontre... Aí sim o porre teria valido a pena. E eu dormiria tranquila, esperando que um novo dia me salvasse das noites tormentosas em que me perco sem saber ao certo como é viver só.