terça-feira, 18 de setembro de 2012

Boas-vindas à Geni!





Podem ligar as câmeras e os holofotes, pois a atração da semana chegou. Eu poderia começar dizendo que a mídia novamente conseguiu manipular muito bem as mentes “ingênuas” de metade da população, mas recairia sobre o mesmo erro do qual vim falar aqui. Na verdade, somos a parte de um todo que já não me arrisco a chamar de “sociedade”, um todo habituado com a “lei do bode expiatório”. Simplificando, se errar já é humano, achar alguém pra colocar a culpa é mais humano ainda.

Nos últimos dois dias, o assunto mais comentado nos noticiários, redes sociais e bate-papos no meio acadêmico é o caso de uma professora da Universidade do Estado do Pará que, por motivos que não nos convém detalhar, teria chamado o vigilante da referida universidade de “macaco”. O caos se instalou pelo fato do vigilante ser negro. A professora foi acusada de racismo e a situação repercutiu ao ponto de ir parar em jornais nacionais.

A indignação de todos é realmente admirável, levando em conta que nós, como exímios exemplos de cidadãos morais e éticos, não praticamos quaisquer atos de preconceito no dia a dia, sequer em momentos de extrema revolta. Se minha ironia foi passível de compreensão, pergunto agora quem somos nós para “jogarmos no lixo” o diploma de alguém? Longe de mim, ainda que pareça, aplaudir a atitude da professora, no entanto alguma reflexão tem de ser feita sobre nós mesmos e sobre o que estamos fazendo em cada situação como esta.

Quero dizer, a impressão que dá é que estamos à beira de um ataque diário, sempre em busca de um motivo para cuspir todas as raivas contidas, as angústias, as revoltas... já que somos obrigados a balançar a cabeça todo tempo pra tudo que nos é mostrado como certo ou como verdade absoluta. Daí surge um alvo fácil para servir de “bode” às nossas raivas. Surge, como diria Chico Buarque, uma Geni para apedrejarmos.  Pois não nos basta ver o culpado se acabando, lambendo a própria culpa... é preciso mais, sempre mais. Falta pisar, linchar, humilhar um pouco mais porque nada é suficiente. Errou? Pague por isso e da pior forma possível.

E enquanto o “resto” dos problemas à nossa volta torna-se realmente RESTO, nos contentamos em sentir que somos moralistas, ativistas, políticos, jovens informados e adultos em busca de uma sociedade mais humana, no momento em que apontamos o dedo e gritamos todos os palavrões que nos vêm em mente. Mas estamos sendo justos. Em um conceito de justiça no qual a violência, a estupidez e a covardia atraem mais atenção dos olhos e da mente que a verdadeira arte de “ser humano” além de “ser vivo”.

Que a ética venha a nós, já que não conseguimos ir até ela. 

sábado, 8 de setembro de 2012

Sobre apostas e fugas.

Texto feito em parceria com o blogueiro Eraldo, do blog Eraldo e suas paulinisses



Ele escrevia contos de fada sobre ela. Fazia daqueles cachos castanhos o travesseiro das suas palavras. E de lá, elas brotavam sorrateiras para cada parte do violoncelo, que para ele, era o corpo dela.

Ela aceitava aqueles olhares com a culpa de quem foi criada num jardim aonde as flores eram proibidas de desabrochar. Tinha vontade de ir, mas só quando já estava de volta. Sonhava com fogo sem ao menos poder ter sido fagulha, e pedia perdão a Deus por imaginar que todas aquelas notas que ele tocava eram sempre lá.

Nas sobrancelhas levemente arqueadas pelo olhar temeroso, ele a observava como se as palavras fizessem dela pôr-do-sol, início e fim ao mesmo tempo, abrindo espaço para um eclipse que aconteceria adiante. Para ele, nas pupilas dilatadas ela era o dragão fêmea, que inescrupuloso cuspia fogo e fumaça em meio ao quarto vazio de tudo que não fosse os dois.

Ela então passou a olhá-lo como quem abre a porta e tocar nele como quem abre as pernas. Sorria de tudo que ele falava, mirava tudo que fazia, mas parecia que quanto mais ela andava menos saía do lugar. Era pecado demais ela chegar e dizer que o queria. Na verdade, ela se culpava pelo simples fato de querer tanto, mas aquela brasa não parava de incendiar- e um fogo que ela já não conseguia acreditar que aquecia os dois. Por que ele não a tomava para si, se ela já era dele?

Ele, confuso em meio àquilo que o corpo dela lhe dizia, se perdeu. Afundou-se no conto de fadas do qual sonhara fazer parte, e pensou ver sua musa musicista perder-se também nas notas, no fogo e no colchão, deixando-o desnorteado. Ele fugiu então pelos labirintos de onde viera até cruzar com os primeiros olhos castanhos que o esperavam na esquina. Estes olhos, que de musa não eram, trouxeram-no à realidade que não queria viver. Agora, era só o corpo, a culpa,  a puta, o gozo, a roupa, a polpa da noite que chegava ao fim.

Restou a ela a rua da dor que todos percorrem quando a paixão é via de mão única. Ele e a outra. Ela consigo. Ela, ela mesma, e ele nas lembranças. É o que ela tinha, e o que ela era conforme se descobria. Todos aqueles desejos fizeram com que ela achasse com as próprias mãos o caminho do desejo em si mesma. Ela sonhava e a mão descia, apalpava, esfregava. O dedo dentro. A mexida; o contorcer; o contorcer; o mexer; o entrar; o arreganhar e apertar de pernas; o gemido que escapava; aquilo que veio lá de dentro quando ela finalmente chegou. Ao abrir os olhos depois de experimentar o orgasmo, ela viu os olhos que a observavam pela fresta da porta que esquecera aberta. A mãe, ao perceber-se flagrada, foi rezar como quem sente inveja, e a moça sentiu a vergonha de quem não se arrepende.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

De toda falta que a falta faz



Ela precisa chover por dentro. Chover lembranças, histórias, e esse emaranhado todo de vida que ficou perdido frente ao rio Guamá. A chuva de Belém já não supre aquele calor que vem de dentro dela. Ela precisa chover um temporal, daqueles de três da tarde, de não querer sair de baixo do lençol. Ela precisa ser rio de novo, seguir adiante ainda que contra a maré. Ela precisa reencontrar as asas que alguém roubou quando se foi, aquelas asas que guardavam seus sonhos. Roubar asas com sonhos deveria ser crime, não? 
Quer fugir, mas não tem rumo. Caminha na praça aos domingos, driblando passos de pessoas que nem sequer notam uma pintura diferente em seu rosto...
Segue o boi do Pavulagem tentando ser um pouco de todas as cores.
Ela quer ser estrela. Personagem de cordel. Erva do ver-o-peso. Catavento. 
Sol.
Igarapé.
Ar.
Tudo isso ao mesmo tempo.
Nos pés descalços, tenta encontrar as pegadas de um passarinho viajante que por ali deve ter passado, é que ele fugiu num barco de miriti e dali não se viu mais. Ah, aquele passarinho. Tinha asas como ela e cada pena de uma cor. Mas a dor dissolveria numa gota de chuva. Se ela chovesse por dentro. 

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Revirando passados.


Hoje eu abri o meu baú de saudades e encontrei ele ali, intacto, lindo- como sempre -"fazendo sala" pro passado que eu pensei ter enterrado no fundo do quintal da memória. Revivi em segundos todo aquele emaranhado de pensamentos que a saudade me causa, voltei a pé àquela estrada que ladrilhei com ele nos dias em que o Sol não saía de casa. Mas então, em ressonância com o timbre daquela gargalhada que eu lembrava mentalmente, veio o inverno. A voz dele, que tanto me acalmara e me livrara dos abismos do cotidiano, a voz que eu apreciara nas madrugadas a fio sem preocupação com o dia seguinte... aquela voz trouxe o inverno consigo e me congelou. 
Não sei definir se a saudade tem mais habilidade em machucar do que o inverno daquela voz do outro lado da linha. E do outro lado do mundo, eu soube que o amor e amizade caíram num labirinto de gelo e esquecimento, onde nem que eu me jogasse no foço mais profundo, alcançaria. O inverno atravessou meus ouvidos e dominou cada parte do meu corpo. O gelo- tão frio, mas quebrável ao menos toque -tomara conta de mim. E antes que qualquer balde de lágrimas fosse capaz de me derreter, tranquei novamente o baú. Preferi deixar aquele passado quieto novamente, pra não achar que pode fazer visitas sem avisar. Deixa ele lá. Agora sim, deságuo, até evaporar, deixando essa saudade fugir com o ar.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

(Pro)cura

Existe um vazio presente por entre as minhas palavras. Provavelmente você não vê, mas existe sim. Entre uma palavra e outra há um espaço maior que se pode imaginar. Uns chamam de vácuo, mas eu chamo de vazio mesmo. Porque o vácuo é um nada tão nada que não tem nenhum significado... O vazio não. Vazio é a sombra de algo que um dia esteve ali; é como o céu fica se alguém sequestrar as estrelas; é o resto do próprio resto; é o último suspiro de uma saudade infinita; é aquela lembrança que caminha sorrateira na nossa mente nas tardes de domingo; é a mensagem que não chega; é a supremacia da solidão; é um texto sem entrelinhas; é a mão que falta pra juntar a nossa. E vazio doi, meu irmão. Nem te conto como doi. Porque é um nada tão cheio que entope a gente. Que absorve a energia e os sorrisos que a gente guardou pra desfrutar depois do jantar. E as minhas palavras abe-se lá porquê, começaram a marcar encontros as escondidas.
Mas sabe, acho que não são só as minhas palavras que escondem esse vazio. Todas aquelas que já perderam seu ponto de partida acabam se tornando amigas dele. Porque palavras conseguem sentir saudade de um jeito tão delas que o vazio até se encantou. Como se, em cada espaço de distância entre elas houvesse uma coisa perdida, algo que não conseguiu terminar direito ou deixou o serviço pra mais tarde. No fim das contas, toda palavra é um pedaço de perda no mundo, um filho desgarrado, uma adolescente rebelde. E quando a gente escreve sobre a saudade, elas se escondem no vazio, deixam a rebeldia de lado, e se perdem por ali mesmo, entre elas, tentando chegar a um ponto que há tempos foi  deixado pra trás. Desistam, meus amores, com ou sem vazio, há muita profundeza por trás de textos rabiscados por aí. E é preciso ter olhos um tantinho vazios também para enxergar toda história contida nas entrepalavras de uma vida.
É estranho dormir sem o teu "boa noite" sussurrado no ouvido, ainda que do outro lado da linha, do outro lado da cidade. A distância é tão relativa quando se ama. Mais estranho ainda é não te ouvir sorrir antes de apertar o botão pra encerrar a chamada. Pra ser bem sincera, o estranho doi, porque  sei que sou eu quem desliga toda vez dizendo que sou a racionalidade da relação, mas sim... o mesmo aperto que tu sentes, espreme meu coração por inteiro antes de desligar, e só o teu riso é capaz de amenizar isso. Mas tudo bem, hoje respirei fundo e escondi as lágrimas no lençol. Disse a mim mesma que não precisava isso. Infelizmente sou intensa, intensa demais. E mais infelizmente ainda, principalmente pra ti, eu tenho muitos prantos guardados por aqui. Pois é, lembra quando eu disse que tinha um segredo? O meu segredo é esse: para cada sorriso que trago no rosto, há um pranto escondido no bolso. E basta um simples aperto teu ligando o botão da frieza, pra que eu reviva um pouco cada um desses prantos. Não tens culpa de nada, e também não sei se tenho... um defeito que aos poucos tens descoberto é que raramente sei quando fiz algo errado. Por isso eu espero que me digas, não me deixa nessa aflição, não. Por favor. Isso me faz voltar a tudo que eu deixei enterrado em um baú sem chave, faz eu revisitar a memória com um ar de quem não sabe mais por onde anda. Meu presente é esse, mas não sei porque eu fiquei tão perdida sem a tua voz antes de dormir... Só me deixa dizer que te amo mais uma vez, ok? Mesmo que tu não ouças pois já deves estar dormindo, mas eu digo por aqui, sussurro à minha maneira e peço pro vento levar até os teus sonhos. Deixa eu dizer que sou feliz contigo, todo dia um pouco mais. Dizer que fazes o meu sorriso viajar até meus 10 anos de idade, quando tudo era mais leve e mais doce. Deixa eu dizer que o teu sorriso me faz bem, que o teu carinho me conforta, que nos teus braços eu não tenho medo de nada, ou quase nada (porque o medo de mim mesma parece que nunca se esvai). Dizer que a tua felicidade é a minha, que eu escolhi acreditar em ti porque era preciso, porque eu preciso da tua voz quando acordo, durante o dia, no meio do meu choro, interrompendo a gargalhada, na ligação inesperada, e mais do que em todas as ocasiões... antes de dormir. Não esquece disso tudo, ta?
Um beijo, boa noite, eu te amo. 

sábado, 17 de março de 2012

Jet'aime

Não era amor e eu sabia disso. Mas era bom. Era vento de chuva no fim da tarde. Era cheiro de grama molhada. Era um tormento cheio de paz, sabe? Não sabe? Bom, vou tentar explicar... Como o sorriso bobo que se dá sozinho ao lembrar de um momento bom; o frio na barriga aos 15 anos quando o cara do 2º ano te olhou; como a sensação mais gostosa do mundo ao terminar um livro bom; como o suspiro da preguiça após acordar; o abraço apertado; o cheiro daquele dia que você não vai esquecer; como a piada sem graça que te faz morrer de rir; a música que te acalma; a mensagem que surpreende; o carinho guardado, a lembrança doce... Pois é, ele era tudo isso para mim! Toda paz que me causava agonia extrema. Mas não era amor, isso eu sei. Só era bom estar perto. Ouvir a voz. Saber do dia. Tocar o rosto e os cabelos. Sentir o perfume. Brigar por bobagens. Era bom, sim.
Pretérito Imperfeito.
Por que pra mim nada acaba completamente. Ainda que pra ele sim. Ainda que o "perto" não faça mais parte. Ainda que o "bom" não seja mais tão concreto. Eu guardei-o numa caixinha com o nome dele. É que, como sempre, eu estraguei tudo. Eu e a minha boca grande. Esquecemos que falar dessas coisas - do quanto alguém pode ser bom pra gente, bom da gente querer perto, mesmo sem ser amor - pode meter medo nos outros. É claro que esse "outros", na verdade, é ele. Então, eu tive que guardar o frio na barriga, o sorriso bobo, a saudade e a vontade de rir acompanhada dentro de uma caixinha. Mas a vida, traíra como ela é, de vez em quando tira a tampa da caixinha sem querer, aí aquelas coisas todas voltam e eu já não sei ao certo o que fazer com elas.
Esquisito esse jeito das coisas serem, de uma hora pra outra um presente vira passado e a gente se perde pelo caminho. Eu ainda tento catar aquilo tudo que vai ficando pelos cantos, mas uma coisa não dá pra juntar e recuperar- aquele olhar doce, trocado nas manhãs que, embora cinzentas, ganhavam cores. O olhar, até hoje, ainda procuro... Vai ver ele esqueceu por aí. Vai ver que todo amor que eu sei que não era, ficou esquecido junto com ele.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Abraço de urso.

Tenho uma relação doentia com abraços. Uma paixão, dependência, desejo, uma saudade incomensurável. Fome. Abstinência. Nos abraços eu me encontro, me acolho, reviro passados, planejo futuros... Porque os abraços contam histórias. Quando os braços se unem, os corações conversam. E coração tem tanto a dizer, só que fora dos abraços ele se inibe e a gente não diz nada. Por isso eu gosto tanto de abraçar, adoro ouvir os corações falando e descobrir os mundos que cada um percorreu. Quando encontro alguém que não vejo há muito tempo... Eu corro pra um abraço, daqueles que não dá vontade de largar mais. Dá vontade de absorver cada pedacinho do outro, e guardar uns pra si, levar pra casa aquele momento único de dizer tudo sem falar nada. Tenho alguns "abraços de urso" na minha vida, e eles são sagrados. Se eu pudesse trocava todos os meus ursinhos de pelúcia por eles e os colocava na lateral da minha cama, para todas as noites dormir dentro do abrigo aconchegante do abraço de amor, de amigo. Quisera eu não precisar sentir saudade dos abraços, sequer dos donos deles. Mas meu coração clama por uma conversa aqui e ali. Sabe como é, ele é tão falante quanto eu e quase sempre sente falta de companhia... Tenho um coração carente e um corpo e mente sedentos pelo momento sublime de me esconder na solidão de um abraço, é ali que me completo. Definitivamente Martha Medeiros foi feliz demais ao dizer que o melhor lugar no mundo para se estar é dentro de um abraço, lá tudo se dissolve.
Às vezes eu pareço até meio jogada, porque não posso ver um ombro livre e já deito a cabeça pra ver se ganho um braço em volta do corpo... Ah, sabe como é, as preliminares. E não é que às vezes dá certo? Então, não peço que me compreenda nessa minha normalidade louca de gostar de me abrigar nas pessoas, eu devo é levar muito a sério aquela história de "morar no outro". Na verdade, isso tudo aqui, é uma forma de dizer "olha, se qualquer dia desses eu te encontrar por aí, por acaso da vida ou acaso marcado, não se assuste se eu buscar toda a energia contida em mim pra te envolver nos meus braços com toda força do mundo. É que eu preciso te sentir, com tudo que há de bom em mim, e tenha certeza que logo depois eu vou sentir saudades, voltar pra casa com gostinho de quero mais, torcer pra que, em breve, eu me abrigue em você e você em mim."

Trecho.


Tomar um porre de lágrimas seria uma boa. Como qualquer bebida, cada gole teria um significado. Um passado saudoso. Um futuro sonhado. Um presente incoerente. Cada gota de lágrima me levaria mais fundo a isso que vocês chamam de "embriaguez". Uma fuga do mundo. Uma fuga de gente. Fuga de todo sagrado ou profano que persegue a minha solidão quando só preciso dar uns abraços nela. E quando, enfim, a quantidade de lágrimas bebidas conseguisse me fazer tropeçar nas palavras, nas tão traiçoeiras palavras que escondem a minha solidão para que eu não a encontre... Aí sim o porre teria valido a pena. E eu dormiria tranquila, esperando que um novo dia me salvasse das noites tormentosas em que me perco sem saber ao certo como é viver só.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Prefixal.


Outro dia me perguntaram a diferença entre afeto e desafeto. Bom, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi Guimarães Rosa, quando disse que "infelicidade é apenas uma questão de prefixo"- vai ver a lógica era a mesma, não é? Não. Não é. E eu sabia disso. Em se tratando de felicidade parece haver uma questão de escolha. A gente resolve ser feliz naquela hora, naquele dia, naquela semana... ainda que tudo esteja desabando a nossa volta. Mas coloca um sorriso no rosto, finge que é "carnaval" e até que as coisas se ajeitam. Temporariamente- ou, na melhor das hipóteses, permanentemente.

Mas quando se fala em afeto... Nossa, que peso! Uma cobrança, um medo, uma possessividade, como se o fato de gostarmos de alguém nos tornasse donos. É informação demais pra caber em 5 letrinhas, poxa!
Desafeto então, nem se fala. É ausência de tudo aquilo que o afeto cobra. Lá vem mais uma palavra pesada- ausência.
Eu acho que no fundo, a gente anda perdendo muito tempo. Desgastando a mente e o coração com essa mania de pedir demais, querer em excesso, nunca se satisfazer com o que tem, competir. Gostar não é isso, não!
Enquanto a cobrança enche as horas do dia, perdemos a chance de simplesmente "se doar". De fazer sem esperar, de sentir aquela agonia gostosa ao esperar pela reação depois de fazer uma surpresa, de conquistar o sorriso sincera e de quebra levar de brinde os abraços e os beijos. De descobrir que muitas vezes mais vale a alegria de ter feito pelo outro do que de ter recebido. Oh, coisa gostosa, viu?
É claro que faz falta receber... Mas é fazendo que se conquista. A isso a gente dá o nome de reciprocidade- não que fosse tão necessário nomear esse tipo de coisa, mas vai entender mais essa mania nossa.
Afeto é uma troca natural de sentimentos, sem que um prevaleça sobre o outro, na qual cada um é o que é e demonstra como sabe ou como pode ou como gosta. No meu dicionário de vida afeto é isso.
Deixa as cobranças pro que realmente se deve: impostos, políticos, injustiças...
E quanto ao desafeto... bom, eu vou jogar o peso todo pra ele, tudo bem? E deixa quieto porque nós queremos ser fortes, mas pra tudo que for bom. O resto a gente deixa num canto, pesando até se tornar apenas uma questão de prefixo.

"Que o teu afeto me afetou é fato, agora faça-me o favor." (O Teatro Mágico)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

LL

Elas são muitas. Várias. Diversas. 
Naquele meio dá pra encontrar de tudo. Loiras, morenas, uma ruiva ali pelo meio. Maduras quase sempre, infantis por circunstância. Divertidas por natureza, melancólicas pois são humanas. Nostálgicas since sempre. Artistas por opção, escritoras por uma fuga, filósofas por excelência. Sonhadoras porque se deve ser, coloridas pra dar mais graça, talentosas- óbvio. Dramáticas, lindas, românticas, frágeis, crueis (quando necessário), conquistadoras, misteriosas, feridas, exageradas, poderosas, doces, heteros, homos, iguais, distintas... Mulheres! Isso mesmo. 
Se me contassem, eu acharia que era filme, série ou qualquer coisa do tipo. Mas eu estou lá, dia sim- dia não. Passeio por São Paulo, Rio, Aracaju, etc... sem sair da cadeira. E melhor ainda, visito histórias de amor, dor, passado, presente, sonhos... que dariam livros incríveis. Mas são reais. Eu visito vidas. E aos poucos descobri que mais legal do que ler textos, poesias, letras de música... É ler pessoas e o que todas essas coisas geram nelas. Porque no fundo, nenhuma palavra- escrita ou cantada- teria importância se não causasse um mínimo furor, bem, bem dentro da gente.
Só que o mundo, o dia a dia, a Av. Paulista, O ver-o-peso... e tudo o mais, estão sempre com os holofotes ligados pra enxergar bem todas nós. "Que roupa ela ta usando?", "ela esqueceu a maquiagem?", "aquilo é chapinha ou é natural?"... E assim, como diz o Caio Fernando Abreu:  "tão estranho carregar uma vida inteira no corpo e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros...". Porque os holofotes de todos os lugares do Brasil não usam laser. E mesmo que usassem, não entenderiam toda a confusão que existe dentro de nós. Pra isso é preciso tempo, desejo, paciência e uma boa dose de afeto.
Daí você acorda um dia e descobre que caiu sem paraquedas naquele mundo, e aos poucos vai se costurando nos retalhos de cada uma, montando uma só colcha, onde a linha são as palavras e a agulha é o coração. Não importa se é pra choramingar amor perdido, amor conquistado, vestibular, escolha profissional, problemas em família ou problemas puramente femininos. Não importa se somos mulheres que amam homens, ou mulheres que amam mulheres... Para rir ou chorar, é só começar. Ou será que eu errei o ditado?
O importante é que, juntas, descobrimos a beleza e o valor das pequenas coisas. A lembrança, a preocupação, o cuidado, o carinho... o abraço virtual ( que pode não dar a mesma sensação que o verdadeiro, mas dá um alívio danado quando bate a solidão).
E, descobrimos que as diferenças só nos tornam mais unidas, e isso me lembra que li em algum lugar que "um quebra-cabeças não se completa com peças iguais". Cada perfil, cada história, cada palavra proferida por uma de nós, possui uma energia e uma personalidade diferente, que fortalece diariamente aquela história de "uma por todas e todas por uma" - não somos mosqueteiras, mas como exímias guerreiras, nosso grito de guerra deve ser bem por aí...
Sabe o que é mais doce nisso tudo? Não importa se a situação é alegre ou triste, sempre estamos ali, e a qualquer hora do dia ou da noite, uma ou outra cede o colo ou os aplausos para o que quer que seja. Quando tudo parece em desordem, a gente prova que ordenar a vida não tem graça. Quando na incompletude estamos cheias de vazio, descobrimos que é no vazio que a gente se completa. "Há sempre um por-do-sol para ser visto" e há sempre uma imperfeição pra nos tornar mais únicas e mais adoráveis. Porque o mundo se torna todo mais fácil e palpável sabendo que naquilo que foi lido, tudo que é feio pode (e deve) ser lindo.


"Porque é tão mais fácil aturar a vida sabendo que tem você. Agora sem você, meu amigo, a coisa fica feia- realmente feia" (C.F.A.)

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Barbaridades

Era inescrupulosa. Gostava de acreditar na ideia de que "os fins justificam os meios". Era só. Só de si. E, claro, sempre mal falada pela redondeza. Seu nome ninguém sabia, mas foi batizada Bárbara, somente para os não tão íntimos.
Vestia-se como um homem e agia como tal, andava pelas ruas pouco se importando com as janelas entreabertas que sussurravam as hipóteses sobre "o que" era ela.
Dia desses, andando despreocupado pela calçada, eu a vi. Saía da igreja resoluta, sem manto algum escondendo aquele rosto cheio de marcas. As janelas ainda a fitavam. Vinha com a mão esquerda no bolso, e uma sacola de pedras na outra mão. Fazia como João e Maria, a cada passo, uma pedra no chão, construindo um caminho. As botas de couro combinavam com toda a dureza daquele ser. A única marca fora do lugar, eram aqueles cabelos negros até o ombro, fechando mais ainda seu rosto. Parei de andar e passei a observá-la. Parecia que chorava, embora aquele sorriso de Monalisa não deixasse seu rosto por instante algum.
O caminho de pedras formava um círculo e, calmamente ela se colocou em seu centro. Quando vi, aquela grande sátira da sociedade estava prostrada em meio ao asfalto daquela rua. Virava-se para olhar cada janela com seu rosto vazio. E, de repente, os cabelos negros estavam no chão. Sem mais nada que pudesse definí-la como uma critatura, apesar de tudo, delicada, caiu a desgraçada no chão. Desgraçado. As janelas, então espantadas, gritavam em histeria: "Bárbaro!". E eu chorava. 

Da triste realidade




Desacato


Hoje acordei pedindo pra ser poesia. Abri as janelas e numa baforada de vento às 10 da manhã, eu quis-porque-quis ser poesia. Vai me entender. E então pra todos os lados que eu olhava, suplicava. Pode parecer bobagem, mas queria ser doce e forte como as linhas de uma poesia. Queria poder rimar aqui e ali, e ser alvo de tantos sorrisos e olhares encantadores dos leitores. Queria dizer o sentimento com  habilidade. Queria aprender essa magia de ser delicada e fina sem perder o domínio da palavra.
Mas eu nasci prosa, em todos os sentidos possíveis. Prosa em gênero, número e grau. Prosa de ser e de escrever. E não tenho jeito. Não tomo jeito. Não sei rimar A com B, nem manter as coisas em seus níveis. Não sei nada da elegância e odeio seguir as regras do jogo. O que fazer comigo agora? Não vou ser só um pedaço de texto rabiscado no canto de uma folha de caderno qualquer. Não posso ser só isso... Alguém me finaliza, por favor? Porque eu já perdi a linha, já pulei o parágrafo, já não sei como me terminar, se é que isso é possível. Preciso de mais papel e caneta, pra não ficar restrita às mensagens de texto pela manhã, aos emails respondendo cobranças, aos pedaços de prosa jogados por aí. Eu quero ser mais, e preciso que alguém me escreva. Ninguém disponível? Eu já imaginava...
Então ficamos assim, deixa que eu me escrevo mesmo. Mas depois não reclamem, das linhas tortas, da deselegância, do vocabulário que esqueceu de ser politicamente correto. Nada aqui é correto, às vezes nem a ortografia... Portanto, me deixem quieta me reescrevendo. Isso mesmo,  vou ter de começar de novo, reaprender a ser prosa, porque na tentativa de ser poesia, eu perdi o foco ainda mais.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O mal do século é a Solidão*

*Renato Russo


Todo mundo precisa de reciprocidade. Não importa em quê ou quando, nós só precisamos, até inconscientemente, desse palavrão que significa tanta coisa. Quer ver só?

Reciprocidade é você acordar e encontrar um bilhete agradecendo pela linda noite e convidando para o almoço; é responder, sempre que possível, aquela mensagem de "bom dia" que chega diariamente; é ouvir o desabafo e ceder o colo mesmo que você quisesse ficar só naquele dia; é aconselhar, mas respeitar as decisões, ainda que sejam o total oposto do conselho; é compreender o mau humor em dias de sol; é abraçar pra proteger; é sorrir quando aquela mensagem dizendo "eu te amo" chega na madrugada, mesmo tendo te acordado; é sair na rua e lembrar da pessoa quando vê algo que ela gosta muito; é escrever cartas, mesmo que nunca sejam entregues; é pedir pro outro não sumir, até quando é você que anda ocupado demais; é seguir o pedido e realmente não sumir; é ficar esperando no telefone enquanto o outro resolve os problemas do trabalho; é mandar aquela música que te faz tão bem; é dizer coisas legais e fofas de vez em quando, pode ser até muito de vez em quando, mas é preciso que se diga; é dar um "oi, tudo bem?" no MSN; é ser tímido ou não ter muito assunto, mas estar ali quando for preciso; é viver junto as alegrias e tristezas, conquistas e separações. Reciprocidade é compartilhar cada momento, sentimento, sensação. É sentir saudade junto. Aí alguém vem me dizer - "tu enrolaste esse tempo todo pra cair no mesmo ponto de sempre? A saudade...". Não, não enrolei, só tentei dizer que tudo aquilo ali é necessário, é gostoso, faz cócegas no coração e nos rouba sorrisos, é isso que importa, afinal! E sabe, sentir saudade só é meio chato. Aliás, é muito chato. Desgastante. Se a distância já maltrata, imagina a saudade sozinho, sem ninguém pra olhar pro céu ao mesmo tempo que você e se perder nas horas lembrando de cada momento... Pois é, assim doi mais. 

Por isso eu dou tanto valor na reciprocidade, nesse palavrão, porque eu sinto saudade em doses contraindicadas, e o ministério da vida adverte que quando a saudade soma com a solidão, a coisa desanda. E bom, eu não gosto nada de UTI e não quero correr esse risco. Daí eu peço reciprocidade. Não sei se pra Deus, mas sim pras pessoas, porque no fim das contas a gente acha que é só pedir pra Ele que ta tudo certo, e "o cara" não é culpado de tudo, meus amores. O recíproco tem que vir da gente, ou melhor, desse lado aí, porque a minha parte já está feita... só preciso de vocês pra me acompanharem na saudade, no amor, nas lágrimas e nos sorrisos. Compartilhar é preciso e se a gente pensar bem, é uma das sensações mais lindas ver seu sentimento espelhado no outro. Eu só aceito ser sozinho, se a gente for sozinho junto.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Das canções da brisa na tempestade...


Foi um sopro de vento. Você me chegou como um sopro de vento, daqueles que tiram uma mecha de cabelo do lugar, que roubam uma folha de uma árvore qualquer fazendo-a cair sem graça no chão, que passam livremente pela fresta da janela, ainda que esta esteja fechada. Um sopro de vento que sequestrou minha atenção e me fez ver música até nos lugares mais loucos. Você foi música para mim, essa é a verdade. No início, uma canção bem fácil de aprender, poucas notas, singela o suficiente pra me prender. Um assobio. Até que, aos poucos, o assobio tornou-se canto, em seguida uma cifra completa, complexa. E eu precisava ouví-la cada vez mais, precisava tocá-la.

De alguma forma, aquele vento fez-se mais forte e mais presente. E fez de mim uma chuva fina, que somada ao vento frio, afinou a nossa sintonia. Você soprava e eu chovia, desaguando nas notas dos nossos dias, fizemos do amor uma orquestra.
Você me mostrou que quatro cordas são capazes de tocar a harmonia da vida de uma vez só; me ensinou que tempo bom nem sempre é sol a pino, mas que a chuva também traz uma paz incomum; você me mostrou o quanto um baixo e uma flauta não precisam de nenhuma cifra especial pra completarem uma canção; me ensinou que mesmo eu sendo bemol e você sustenido, uma chuva não acontece se o vento não aparecer... É simples assim.. eu aprendi, que não existo sem você.

sábado, 4 de fevereiro de 2012


Se eu tivesse alguns poderes em mãos agora, ia correndo aí te buscar e te levar pra casa. Pra minha casa, sabe  ? Segunda estrela à direita depois segue direto, prometo te esperar bem ali. A gente faz uma viagem de alguns anos luz, mas eles vão compensar toda distância de agora, e eu vou tentar ser uma boa companhia nesse tempo, ok? Mas me manda alguns dos teus poderes vai... por favor. Só queria passar um tempinho contigo na minha estrela, ela é humilde, eu sei, mas tem espaço suficiente pra tu me abraçares um pouco e mandar pro espaço essa dorzinha que eu ando escondendo aqui no peito.
Então fica combinado assim: me espera bem aí que eu to indo te buscar, arrumo essa magia não sei onde, mas te levo pra minha casa,vê se não esquece o endereço pra poder me visitar depois, porque eu não to aguentando tanto tempo longe de ti. E não vou deixar amanhecer, pelo menos dessa vez.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Da arte dos dias e seus afins.

                                                                   "Infelicidade é uma questão de prefixo"
                                                                                                    (Guimarães Rosa)
Viver é trabalhoso, disso todo mundo sabe. Mas compensa. Poucas foram as vezes que me senti tão leve quanto ultimamente, sem medos, preocupações, cobranças internas e externas.... Talvez, como diz o Caio: "(...) sem muita bagagem. Pesos desnecessários causam sempre dores desnecessárias". Bom, é que a liberdade é uma visitante rara, daquelas que só vem de tempos em tempos pra não deixar a sensação de enjoo por estar sempre presente. E agora ela está hospedada em mim, e vem me deixando assim, com essa tranquilidade sentimental, corporal, mental, moral.. e nossa, isso é bom demais!
Pode ser que amanhã eu acorde triste, nostálgica, eufórica, pode ser que a saudade dê uma trégua ou que as lembranças me invadam e eu fique quieta demais, imersa nelas. Mas hoje está tudo bom, muito bom, obrigada! Sabe como é, existem sempre algumas patologias e uma lista imensa de remédios nunca contra indicados.
Fazer uma declaração de amor sem saber no que vai dar e rir de tudo depois; caminhar sem rumo numa noite qualquer pra reorganizar a mente; passar quase 2 horas ao telefone com alguém que de alguma forma te faz muito bem; ler coisas aleatórias; escrever uma carta a uma pessoa especial; ganhar uma carta de alguém que imediatamente se torna especial; ouvir uma música infinitas vezes sozinho(a) no quarto; encontrar casualmente alguém que não se vê há muito tempo; marcar encontros de improviso, daqueles de 40 min em que se fala tudo que aconteceu na semana, no mês ou o que quer que seja; dançar incessantemente; conversar sobre os problemas da humanidade com gente que vai entender até seus maiores absurdos. Tudo isso é muito saudável, pelo menos pra mim. Conseguir sentir isso tudo em um dia, é melhor ainda, e como!
Hoje é um daqueles dias em que finalmente a minha paz não depende de ninguém. Sabe, não é mais o sorriso de alguém que eu vou deixar na estante pra "aquecer" o dia, e sim o meu. Aquele momento em que a própria felicidade basta pra fazer as coisas tomarem o rumo certo. Meu mundo está girando no ritmo perfeito, as cores estão todas em seus lugares, e até as lágrimas, quando pedem pra sair é só pra avisar que aquele coração está cheio de poeira e precisa ficar limpo, mas tem tanta vida acontecendo, que a tristeza e a solidão perderam seu espaço. Dia desses, um amigo me disse que a felicidade é um estado passageiro, que são várias alegrias juntas. E quer saber, ele estava era muito certo. A gente é que tem essa mania de querer eternizar tudo por não gostar do passageiro. A felicidade, como a liberdade e todos os seus afins, estão apenas revezando a hospedagem dentro da gente. E nós só temos de cumprir nossa obrigação- sermos anfitriões, no mínimo, educados.
Porque afinal de contas a gente esquece que as coisas muito fáceis, perdem a graça. Desde as nossas inúmeras conquistas amorosas até esses "objetivos de vida", tudo deve ter um pouquinho de dificuldade pra se tornar interessante. A verdade é que seguir esse caminho é muito fácil, só tomar cuidado com os buracos no meio da calçada, e se tropeçar em algumas desilusões, não deixar a queda ferir demais, pois às vezes o joelho ralado até cura, mas a memória da queda fica sempre ali, e não faz nada bem.
Portanto, é bom pintar um arco-íris nos lábios de vez em quando, independente do que vem depois, pois se a vida dá trabalho, este deve ser realizado e, de preferência, com sucesso. E no fundo nós já sabemos que fórmulas só funcionam na matemática, e que no dia a dia precisamos é dessa troca de coisas saudáveis e geralmente simples. Acreditem, Tom Jobim nos revelou um segredo fantástico: podemos fazer mil coisas sozinhos, ser feliz não é uma delas. Boa sorte pra nós!


"Deixa eu brincar de ser feliz
Deixa eu pintar o meu nariz..." 

(Los Hermanos)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Pra ver se você entende...

Oi garoto. É, fui eu que te liguei ontem sim, de número desconhecido pra ver se assim você atendia. Não queria te encher o saco não, na verdade era melhor que você nem soubesse que era eu, a ideia era só ouvir tua voz dizendo "alô" pelo menos uma vez, e poxa... nem assim você atendeu. Mas tudo bem, eu superei mais um dia sem falar contigo, roendo todas as unhas é claro, esperando que uma das minhas mensagens tivesse resposta. E nada. Eu já devia saber que você realmente não ia com a minha cara, ou sei lá o quê.. eu sou chata demais? Já sei, faço muito "mimimi", é isso? Ou é o modo como me visto? Como falo com as pessoas? Sou carinhosa em excesso? Ou quem sabe é meu sentimentalismo que incomoda... Eu só queria saber o que me faz ser tão desinteressante pra você. Mas no fundo eu acho que sei, vivem dizendo que quando a gente dá importância demais a alguém, este não vai te dar o devido valor, é isso então?
Bom, eu desisto de te entender garoto. Só queria que você soubesse que... com todo esse teu jeito tosco e mimado e estranho e chato e todo errado de ser, é em você que eu tenho pensado assim que acordo, e é pensando em você que vou deitar todo dia. Pode me chamar de louca ou do que quiser, eu também não gosto nada da ideia, ainda mais por quem, logo você. Mas eu sinto muito, por nós dois, eu tenho um coração teimoso demais. Não adiantou eu dizer milhões de vezes "fica quieto aí, já chega de sofrer, dá um tempo disso, não inventa de ficar acelerando por aí, se resguarda um pouco...". Não, ele foi lá todo faceiro e me obrigou a esboçar um sorriso quando te vi aquele dia. Ok, não foi culpa dele. Na verdade acho que sempre te achei bonito desse jeito, desse teu jeitão torto aí, essa pose, o nariz em pé, a brincadeira do andar de playboy... mesmo quando eu dizia que não gostava de você, pois é, eu tenho mania de dizer as coisas pra mim mesma tentando fazer com que elas se tornem verdades. Mas não funcionou, eu gostava com tudo e contudo. E do meu jeito mais errado ainda fiz de tudo pra fazer parte de ti, da tua vida, ainda faço às vezes, mas sabe o que é? Não sei lidar com essas tuas peculiaridades, com essa tua segurança que me assusta, essa aparência de que sozinho estás bem. Eu não te quero sozinho, te quero comigo, garoto, vê se entende. Não sou a mais bonita, ou a mais divertida, inteligente, segura, admirável... não sou aquele modelo que você esperou por tanto tempo, nem sou centro das atenções de nada, nenhuma Colombina ou uma dama na qual Chico se inspiraria. Mas eu quero tanto ser o motivo do teu sorriso, eu prometo que até aprendo a ser engraçadinha... eu quero tanto fazer parte dos teus planos, ficar dentro do teu abraço, quero tanto ser um objetivo teu (ainda que já alcançado), um motivo pra seguires em frente, quero ser o teu bom dia e a última voz antes do boa noite, quero ser isso tudo aí que você precisa e que eu posso me transformar só pra tentar te fazer feliz. E eu prometo que não te faço chorar, só se for de emoção ou de tanto rir... Eu só te quero mais perto, bem aqui, do meu ladinho, pra eu sentir esse teu cheiro doce que eu gosto tanto, pra pegar na tua mão sem o medo da próxima atitude que possas tomar e que isso me afaste de ti. Não me leva a mal não, garoto. No fundo acho que a tosca sou eu, e quem tem que ser consertado é o meu coração... eu te quero desse jeitinho assim que você é. Mas já entendi que é melhor dar um jeito de te tirar do pensamento e dos planos futuros, porque na tua vida não tem mais espaço pra mim. Ah, desculpa a ligação de ontem viu? Prometo que da próxima eu crio coragem e ligo com meu número mesmo, e te digo todas essas coisas que escrevi nesse lenço de papel agora, talvez sem as doses de tequila, e provavelmente com menos coragem, mas eu tento.

sábado, 21 de janeiro de 2012

À moça.

                                                  Ler ao som de Além do que se vê- Los Hermanos

"Moça, olha só, o que eu te escrevi
É preciso força, pra sonhar e perceber
Que a estrada vai além do que se vê..."

Acho que quando tu nasceste os anjos fizeram festa no céu. Sei lá, mas é que eles entendem antes das pessoas normais quem é que veio ao mundo pra colorir as coisas e as pessoas. Eles entenderam bem rapidinho que tu não eras nada comum, e que trarias contigo um arco-íris de formas pra saber ser feliz e ensinar aos outros essa arte. Aí eu te encontrei moça, te encontrei forte como uma rocha, e doce como um brigadeiro *-* Trouxeste contigo todo esse teu encanto de enxergar além do que todo mundo, porque teus olhos não sabem ver o mundo preto e branco que a gente pinta diariamente com as nossas ações patéticas. Não, teus olhos gostam de cor, ainda que o preto tente resistir, tu vais lá e catas tuas tintas pra jogar sobre tudo.

"... Sei, que a tua solidão me doi
E que é difícil ser feliz
Mais do que somos todos  nós
Você supõe o céu
Que o vento que entortou a flor
Passou também por nosso lar
E foi você quem desviou
Com golpes de pincel..."

Que sorte eu dei não é mesmo, moça? Te encontrei justo na hora que o preto e branco se vestiram de solidão e te pintaram de xadrez tentando bloquear tua visão mágica. Eu te vi então assim, lutando pra desfazer os nós da falta de alguém ou de algo, se recompondo aos poucos, e encontrando novamente as tuas cores... Se não me engano, me pintaste de azul turquesa, a cor da pureza, da cura, da renovação das forças e do adeus à solidão. Vai ver a tua solidão encontrou a minha e elas se deram bem, é... quem sabe. Mas o teu pincel encontrou o lugar certo em mim pra voltar a iluminar o caminho todo...

"...Eu sei, é o amor que ninguém mais vê
(...)
É bom te ver sorrir
Deixa eu ver a moça
Que eu também vou atrás
E a banda diz- assim é que se faz..."

E agora chegou o momento de mais festa no céu e a tua volta, pois estás aí de volta, renascendo, recolorindo, revivendo, realegrando. Obrigada por me pintar moça, e saiba que quando quiseres, posso ser teu painel, e que me tragas todas essas energias boas que eu venho ganhando desde que te conheci. Que o papai do céu não permita jamais que o preto e o branco te atinjam, e que seja doce o teu caminho mocinha, e para não enjoar, uma pitada de amargor, que com a tua força, saberás lidar. Parabéns *-*

À moça que vê além dos próprios olhos, que mora aqui ---> Carpe Diem

Sardade Asdida*


Minha mãe sempre diz: tudo são fases. De fato, com o tempo a gente percebe que as coisas, quase todas, tem seu prazo de validade, mas pra não ficar com aquele teor de fragilidade a gente chama de fases. Tem a fase em que chorar é nossa única manifestação, e dane-se os outros se quiserem entender o que precisamos, choramos e vocês que se virem; tem aquela outra em que você vira artista por andar os alguns centímetros entre a mesa e a cadeira sozinho; a fase de pegar as roupas e sapatos dos nossos pais pra brincar de ser adulto e montar nossos escritórios de mentirinha debaixo de qualquer móvel; a fase de pedir colo por qualquer coisa; a fase das brincadeiras de pique... e bom, tem a fase que a gente cresce. E aí entra a melhor de todas as fases: a escolar. Pena que aos 7, 8 anos quase ninguém sabe disso. Mas também é "uó" acordar cedo todos os dias, vestir aquela roupa que te deixa igual a todo mundo, um sapato que mais parece destruidor de pés e ter que passa 6 horas sentado numa cadeira dura olhando pra um(a) professor(a) que não faz outra coisa além de mandar todo mundo calar a boca. Pois é, quem tem saco pra isso? Não,eu também não tinha. Acontece que as circunstâncias da vida, e aquilo que uns chamam de "ciclo" levam a gente a um dia sentir falta disso tudo. 
Quem já chegou na faculdade sabe bem do que eu to falando. Um belo dia você acorda e começa a lembrar, e    esboça alguns sorrisos quando percebe que tudo era divertido. Aí dá saudade de acordar cedo, de vestir aquele uniforme (que sempre, seeempre era a roupa mais feia que a gente tinha), saudade da época de comprar material - minha favorita-, aquela em que a gente passava horas enchendo o saco dos pais pra comprar AQUELE caderno... e o momento seguinte então? O primeiro dia de aula, quando todo mundo não quer nem saber se tem ou não professor em sala, quer mais é dizer que "o meu caderno é melhor que o teu porque a capa dele é da Hello Kitty" ou então "é, eu ganhei todas as coisas do homem  aranha"... pois é, quem nunca?
Aí os dias vão passando, e a gente vai começando a fazer os grupinhos, se apaixonar, amar ou odiar os professores... e com o passar dos anos até esse clima vai mudando, mas nada melhor que aquele amorzinho de infância/adolescência, do nervosismo quando o garoto da outra série te olhou no intervalo, quando a menina da sala do lado sorriu pra você no corredor... e na época de provas? Claro, terrível ter que estudar química, matemática, física, história etc, mas depois que esse tempo passa a gente até consegue achar um ladinho legal nas imensas equações que nos faziam virar a madrugada resolvendo, ou nas fórmulas que a gente colocava naquele papel de 10 cm antes do simulado, e se desesperava ao pensar que no vestibular não ia poder fazer isso! A gente sente falta dos esquemas de cola, das broncas dos professores, do quanto a cantina da nossa escola era um roubo, dos aniversários que esperávamos o ano inteiro para que chegassem, dos momentos finais e desesperadores de cada ano- a entrega do boletim!
É claro, muitas coisas não mudam na vida estudantil quando se passa pela fera do vestibular, mas o clima, a realidade, as responsabilidades, tudo é diferente, e não sei se é um mal só meu, mas às vezes as mudanças muito drásticas me metem medo. Mas, como eu vinha dizendo, é só mais uma fase, depois de uns 4 ou 5 anos a gente vai se ver no meio de uma jornada maluca com dinheiro no bolso (o que tanto queríamos na fase anterior), mas tentando arranjar tempo pra vida- aquele tempo que tínhamos de sobra antes. Daí sempre nos resta parar numa tarde ou noite qualquer, botar uma música pra tocar e gargalhar sozinho, lembrando de cada um desses momentos que deixaram essa marquinha de "sardade asdida", às vezes uma lágrima escorre aqui ou ali porque não somos de ferro e saudade não é tão fácil de lidar, mas essa "sardade" aí que eu falo, é aquela que dá gosto de sentir, que faz a gente chorar de alegria lembrando de cada pessoa que marcou esses trechinhos de história, lembrar dos nossos erros e rir deles por ver o quanto já amadurecemos,e nos faz olhar pra frente e querer um dia, daqui a um tempo, poder novamente lembrar dos dias de hoje com essa mesma sensação... foi bom enquanto durou, porque tudo tem seu tempo certo de viver.

*Expressão que eu roubei da minha amada Poezita, dona do Cemitério de Pensamentos

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Sim, eu ando meio perdida por aí, ando no sentido literal de andar... tropeço em calçadas que não possuem nenhum degrau ou relevo, tropeço nos meus próprios pés. É que ando sem olhar pro chão na maioria das vezes, me ensinaram nessas revistas, nas rodas de amigos e programas sobre auto-estima que o primeiro passo pra "sair fora" é andar por aí com os ombros bem erguidos, a cabeça lá em cima, como uma forma de mostrar ao mundo que "eu sou superior". Mas sinto muito, não sou. E nem pretendo... sou humana, meu bem, e isso basta. Toda vez que eu tropeçava, descobria mais uma vez que não me enquadro nesse modelo que tanto me cobram ser. Não sei ser uma pessoa sem coração, não sei amar pela metade, não sei fingir que não dou a mínima quando por dentro tem um megafone gritando "Ei, por favor, me dá um pouco de atenção... vê se entende que eu me importo com você, e até demais".
Afinal, do que adianta rir o dia todo, brincar, me divertir de todas as formas possíveis, entrar pra novos projetos, começar mudanças internas e externas(quem sabe...), ir a bares com os amigos nas sextas, encher a cara pra "esquecer os problemas", escrever textos impessoais, ouvir músicas que nada tem a ver comigo, conhecer os mais variados tipos de caras existentes- e desistentes também, diga-se de passagem-, assistir a comédias e não a romances... se no fim do dia, da semana, do mês, acabo sempre do mesmo jeito, jogada na cama, contando cada segundo na tela do celular, a espera de um sinalzinho sequer. Se a cada nova descoberta não posso ligar pra dizer o quanto foi empolgante começar o primeiro estágio,ou como é linda a nova música daquela banda, quem sabe até dizer o quanto foi chato o bar da última sexta com os amigos, e no fim das contas rir disso tudo, porque quando a gente conversa com quem ama tudo parece virar piada, é divertido, até as brigas, as crises de ciúme, um dia viram as mais engraçadas lembranças que serão contadas numa roda de amigos confraternizando sabe-se lá o quê, a vida talvez, o amor, a união... e o quanto é bom ter alguém ao seu lado e não precisar conviver nos dias com todos aqueles sentimentos desagradáveis: tristeza, saudade, frieza... O quanto seria bom não precisar ser melhor que ninguém, e mostrar a quem quisesse ver como é lindo e doce o seu coração, e como é igual a todos: também precisa de amor, carinho, atenção e alguém pra partilhar cada pedaço do dia numa fuga insaciável daquilo que vem nos perseguindo o tempo inteiro- a solidão.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Adieu

Não sei se existe pior forma de Adeus do que aquela à distância. Aquela que há tempos estava ali, mas você barrava na ponta da língua porque não podia aceitar que tudo se dissipasse em uma palavra. Aquela que diariamente te roubava a atenção durante a noite, avisando: "Ei, já chega! A hora de acabar já passou!". Aquele Adeus do ponto final, que tantas vezes você substituiu pelas vírgulas, aspas, reticências, na tentativa forçada de enxertar mais alguns trechos em uma novela que já passou dos 9 meses; em uma receita que já passou do ponto de preparo; em uma canção que já perdeu o ritmo... nesse espetáculo de um único ato, onde até os protagonistas já deixaram num canto qualquer a magia dos seus personagens.
Esse Adeus, não se resume numa palavra só. Aliás, é como uma conta conjunta que foi fechada. Como se um dos lados da confusão tenha ido lá retirar tudo que havia na conta... carinho, admiração, cumplicidade, união, amizade, respeito, perdão...
Isso mesmo, quebrou a senha, que é sempre a confiança, pra retirar tudo aquilo e zerar a conta de novo, pensando que conseguiria pagar aquele boleto que chegava toda tarde e já estava cheio de juros- o boleto da saudade. De fato, dizem por aí que é um dos mais caros, que no fim das contas leva tudo o que temos pra tentar ocupar o vazio gigantesco que foi deixado, tentar suprir uma falta que nem a presença às vezes consegue. E toda semana a mesma pergunta ficava sem resposta:
E a conta da saudade, quem é que paga?
O Adeus veio e respondeu.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A solidão é o coração pedindo a companhia do outro coração; é o disfarce da saudade; a mentira que a mente cria pra não assumir que precisa se abrigar naquele abraço novamente, que sem aquele cheiro não há mais nada encantador, o mundo perdeu a cor. Solidão, é a alma pedindo pra voltar pra casa, aquela casa que o Mário Quintana disse um dia: "o amor é quando a gente mora um no outro..."