quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Da arte dos dias e seus afins.

                                                                   "Infelicidade é uma questão de prefixo"
                                                                                                    (Guimarães Rosa)
Viver é trabalhoso, disso todo mundo sabe. Mas compensa. Poucas foram as vezes que me senti tão leve quanto ultimamente, sem medos, preocupações, cobranças internas e externas.... Talvez, como diz o Caio: "(...) sem muita bagagem. Pesos desnecessários causam sempre dores desnecessárias". Bom, é que a liberdade é uma visitante rara, daquelas que só vem de tempos em tempos pra não deixar a sensação de enjoo por estar sempre presente. E agora ela está hospedada em mim, e vem me deixando assim, com essa tranquilidade sentimental, corporal, mental, moral.. e nossa, isso é bom demais!
Pode ser que amanhã eu acorde triste, nostálgica, eufórica, pode ser que a saudade dê uma trégua ou que as lembranças me invadam e eu fique quieta demais, imersa nelas. Mas hoje está tudo bom, muito bom, obrigada! Sabe como é, existem sempre algumas patologias e uma lista imensa de remédios nunca contra indicados.
Fazer uma declaração de amor sem saber no que vai dar e rir de tudo depois; caminhar sem rumo numa noite qualquer pra reorganizar a mente; passar quase 2 horas ao telefone com alguém que de alguma forma te faz muito bem; ler coisas aleatórias; escrever uma carta a uma pessoa especial; ganhar uma carta de alguém que imediatamente se torna especial; ouvir uma música infinitas vezes sozinho(a) no quarto; encontrar casualmente alguém que não se vê há muito tempo; marcar encontros de improviso, daqueles de 40 min em que se fala tudo que aconteceu na semana, no mês ou o que quer que seja; dançar incessantemente; conversar sobre os problemas da humanidade com gente que vai entender até seus maiores absurdos. Tudo isso é muito saudável, pelo menos pra mim. Conseguir sentir isso tudo em um dia, é melhor ainda, e como!
Hoje é um daqueles dias em que finalmente a minha paz não depende de ninguém. Sabe, não é mais o sorriso de alguém que eu vou deixar na estante pra "aquecer" o dia, e sim o meu. Aquele momento em que a própria felicidade basta pra fazer as coisas tomarem o rumo certo. Meu mundo está girando no ritmo perfeito, as cores estão todas em seus lugares, e até as lágrimas, quando pedem pra sair é só pra avisar que aquele coração está cheio de poeira e precisa ficar limpo, mas tem tanta vida acontecendo, que a tristeza e a solidão perderam seu espaço. Dia desses, um amigo me disse que a felicidade é um estado passageiro, que são várias alegrias juntas. E quer saber, ele estava era muito certo. A gente é que tem essa mania de querer eternizar tudo por não gostar do passageiro. A felicidade, como a liberdade e todos os seus afins, estão apenas revezando a hospedagem dentro da gente. E nós só temos de cumprir nossa obrigação- sermos anfitriões, no mínimo, educados.
Porque afinal de contas a gente esquece que as coisas muito fáceis, perdem a graça. Desde as nossas inúmeras conquistas amorosas até esses "objetivos de vida", tudo deve ter um pouquinho de dificuldade pra se tornar interessante. A verdade é que seguir esse caminho é muito fácil, só tomar cuidado com os buracos no meio da calçada, e se tropeçar em algumas desilusões, não deixar a queda ferir demais, pois às vezes o joelho ralado até cura, mas a memória da queda fica sempre ali, e não faz nada bem.
Portanto, é bom pintar um arco-íris nos lábios de vez em quando, independente do que vem depois, pois se a vida dá trabalho, este deve ser realizado e, de preferência, com sucesso. E no fundo nós já sabemos que fórmulas só funcionam na matemática, e que no dia a dia precisamos é dessa troca de coisas saudáveis e geralmente simples. Acreditem, Tom Jobim nos revelou um segredo fantástico: podemos fazer mil coisas sozinhos, ser feliz não é uma delas. Boa sorte pra nós!


"Deixa eu brincar de ser feliz
Deixa eu pintar o meu nariz..." 

(Los Hermanos)

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