quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Prefixal.


Outro dia me perguntaram a diferença entre afeto e desafeto. Bom, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi Guimarães Rosa, quando disse que "infelicidade é apenas uma questão de prefixo"- vai ver a lógica era a mesma, não é? Não. Não é. E eu sabia disso. Em se tratando de felicidade parece haver uma questão de escolha. A gente resolve ser feliz naquela hora, naquele dia, naquela semana... ainda que tudo esteja desabando a nossa volta. Mas coloca um sorriso no rosto, finge que é "carnaval" e até que as coisas se ajeitam. Temporariamente- ou, na melhor das hipóteses, permanentemente.

Mas quando se fala em afeto... Nossa, que peso! Uma cobrança, um medo, uma possessividade, como se o fato de gostarmos de alguém nos tornasse donos. É informação demais pra caber em 5 letrinhas, poxa!
Desafeto então, nem se fala. É ausência de tudo aquilo que o afeto cobra. Lá vem mais uma palavra pesada- ausência.
Eu acho que no fundo, a gente anda perdendo muito tempo. Desgastando a mente e o coração com essa mania de pedir demais, querer em excesso, nunca se satisfazer com o que tem, competir. Gostar não é isso, não!
Enquanto a cobrança enche as horas do dia, perdemos a chance de simplesmente "se doar". De fazer sem esperar, de sentir aquela agonia gostosa ao esperar pela reação depois de fazer uma surpresa, de conquistar o sorriso sincera e de quebra levar de brinde os abraços e os beijos. De descobrir que muitas vezes mais vale a alegria de ter feito pelo outro do que de ter recebido. Oh, coisa gostosa, viu?
É claro que faz falta receber... Mas é fazendo que se conquista. A isso a gente dá o nome de reciprocidade- não que fosse tão necessário nomear esse tipo de coisa, mas vai entender mais essa mania nossa.
Afeto é uma troca natural de sentimentos, sem que um prevaleça sobre o outro, na qual cada um é o que é e demonstra como sabe ou como pode ou como gosta. No meu dicionário de vida afeto é isso.
Deixa as cobranças pro que realmente se deve: impostos, políticos, injustiças...
E quanto ao desafeto... bom, eu vou jogar o peso todo pra ele, tudo bem? E deixa quieto porque nós queremos ser fortes, mas pra tudo que for bom. O resto a gente deixa num canto, pesando até se tornar apenas uma questão de prefixo.

"Que o teu afeto me afetou é fato, agora faça-me o favor." (O Teatro Mágico)

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