terça-feira, 31 de agosto de 2010

Só enquanto se dorme

Um dia eu sonhei ser um pássaro, para naquelas tardes sombrias sair voando bem alto, explorando os mais profundos segredos do vento, fazendo do céu o meu chão, e das nuvens, o travesseiro onde eu seco o sal das minhas lágrimas.
Um dia, sonhei mudar a realidade triste do mundo, sonhei que a justiça virava lei, e a paz tornava-se herança genética. Sonhei que a miséria era apenas mais um daqueles argumentos pré-históricos de explicar os "maus tempos" de hoje. E sonhei que não havia "maus tempos" nem para serem explicados.
Um dia, no meu sonho, todas as perguntas tinham resposta, a filosofia não era mais exclusiva dos grandes gênios, o ser humano só guardava boas lembranças, e nos dicionários não existia a palavra violência.
Sonhei que as amizades duravam para sempre e que a saudade não doía tanto. Também sonhei que todos os dias eram "dia das crianças", e que para ser criança bastava ser gente e saber olhar pro céu e sorrir, simplesmente porque o Sol está sorrindo pra você também.
E eu sonhei, que todas as pessoas eram felizes...mas foram só sonhos. E quando eu acordei, quis lembrar onde começou isso tudo, e adivinha...nada! Talvez isso seja o mais intrigante dos sonhos, nunca sabemos o começo, e geralmente não conseguimos chegar a um final.
Nosso inconsciente só é habilitado para o meio, o durante, o essencial. O resto fica como resto, como as palavras que deixamos soltas por aí, como a vida e o tempo que escapam de nossas mãos...sem um começo, sem um fim. É só fechar os olhos e eles virão, mesmo que para nunca acabar...

Coisa de coração bobo

Há coisas na vida que simplesmente acontecem. Acordamos um belo dia, e pronto! Somos acertados pela flecha de um cupido travesso... ou não. Às vezes só olhamos pro lado e percebemos que "aquela pessoa" estava sempre ali. Pois é, e o que fazer agora? Como impedir que nossa mente fuja a todo tempo em busca do que não é dela? Como controlar o barulho irritante que seu coração faz enquanto freneticamente acelera na presença de alguém que "nunca é a pessoa certa".
Pois bem, e quem é que define certo e errado quando se trata de sentimentos? Afinal de contas, amor, amizade, opção sexual e essas coisas, não são nada que se escolha. Literalmente não é "opção", é condição.
Eu, pelo menos, nunca vi alguém decidir um dia por quem se apaixonar- e se já houve, com certeza não deu certo.
A verdade, ou melhor, a minha verdade,é que certas coisas acontecem e depois o estrago já foi feito. Não sei nem pra quê eu escrevi isso se realmente não acredito que alguém vá me responder, ou que alguém saberá o que eu devo fazer se estiver apaixonada.
Deve ser mesmo como um professor muito querido me disse uma vez :"Segura na mão e Deus e vai..." É, vai ver é assim mesmo.
Enfim, boa sorte pra mim, e para todos os apaixonados e apaixonantes deste mundo. E se o cupido estiver de bom humor, que me procure... pois eu tenho um alvo certo pra ele!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Analogia

Hoje percebi que procuramos muito sentido nas coisas.Não que eu ache que a vida e seus acontecimentos estão livres da razão, mas agimos como se fôssemos aversos àquele a quem chamamos de destino.
Me arrisco até a dizer que, é típico do "humano" contestar o que não acha correto. Bom, não somos acomodados, isto é fato! Mas não me pergunte se é vantagem ou desvantagem, pois não estou na posição de responder.
Só não entendo porquê não conseguimos aceitar certos "imprevistos" que rondam nossas vidas, como peças essenciais de um quebra-cabeças, ou mesmo como um personagem de uma novela, que no início parece insignificante, porém com o tempo torna-se tão necessário e agradável quanto o protagonista.
Não! Nós temos prazer em ser "do-contra", parece que nos preparamos bom tempo antes, e quando chega o momento, viramos todos crianças birrentas que não tiveram sua vontade satisfeita. Revoltamo-nos, colocamos a culpa em qualquer um, sem piedade, só para não admitirmos que não há culpado, e que em algum momento será nossa vez. Afinla, metade de nós é vida... e a outra metade também. Pena que ainda não entendemos isso!

Lembranças...

No teu sonho, eu me exponho
Sobreponho,
Desapego, Desajeito...
Mas depois eu me nego
E rabisco, e protesto
E me esqueço,
Não retorno,
Desapareço, Entristeço,
E então te deixo,
Com essa inútil saudade,
Essa lágrima seca,
E a humilde faceta, de quem um dia foi feliz!

domingo, 1 de agosto de 2010

Do tempo e suas voltas

Dia desses ao acordar, sentei-me na beira da cama e pus-me a escrever o que me vinha à cabeça, como de costume, simplesmente deixando-me levar por uma onda de sensações inexplicáveis.
Foi quando ouvi passos se aproximando. Distraída, levantei os olhos do papel e dei de cara com um senhor destinto, postura ereta, expressão um tanto enigmática, e uma maleta de pano na mão. Cada vez mais próximo, seus passos adquiriram um som peculiar, meio estalado, mas em um ritmo constante. Algo como o "tic-tac" de um relógio. Não sabia o que pensar, sequer o que fazer.
De repente, compreendi o que se passava ali. Aquele era o Tempo, e olhando a minha volta, notei que ele estava passando para arrancar e levar consigo as lembranças que eu havia deixado escapar. Uma a uma, ele as analisava, sorria às vezes, e seus olhos mudavam de cor de acordo com a natureza da lembrança- iam de um verde bem claro a um negro como jamais havia visto.
Em momento algum dirigiu-se amim. E, saindo de meu deslumbramento, só reagi quando ele já estava de saída.
- Senhor Tempo!- gritei.
Mas ele não virou-se, nem deu sinais de ter me ouvido. " O tempo não olha pra trás", pensei. Só aí prestei atenção, o tempo passou por mim e levou lembranças que eu não soube guardar. Já não sabia mais nem do que se tratavam, minha memória já não alcançava suas essências.
Tive vontade de dizer muitas coisas ao Tempo, mas o que eu lhe diria que ele já não soubesse? Talvez fosse melhor ter perguntado sobre o amor, o trabalho, mas já era tarde- o tempo já se fora e eu não soube aproveitar. Quem sabe da próxima vez...