domingo, 1 de agosto de 2010

Do tempo e suas voltas

Dia desses ao acordar, sentei-me na beira da cama e pus-me a escrever o que me vinha à cabeça, como de costume, simplesmente deixando-me levar por uma onda de sensações inexplicáveis.
Foi quando ouvi passos se aproximando. Distraída, levantei os olhos do papel e dei de cara com um senhor destinto, postura ereta, expressão um tanto enigmática, e uma maleta de pano na mão. Cada vez mais próximo, seus passos adquiriram um som peculiar, meio estalado, mas em um ritmo constante. Algo como o "tic-tac" de um relógio. Não sabia o que pensar, sequer o que fazer.
De repente, compreendi o que se passava ali. Aquele era o Tempo, e olhando a minha volta, notei que ele estava passando para arrancar e levar consigo as lembranças que eu havia deixado escapar. Uma a uma, ele as analisava, sorria às vezes, e seus olhos mudavam de cor de acordo com a natureza da lembrança- iam de um verde bem claro a um negro como jamais havia visto.
Em momento algum dirigiu-se amim. E, saindo de meu deslumbramento, só reagi quando ele já estava de saída.
- Senhor Tempo!- gritei.
Mas ele não virou-se, nem deu sinais de ter me ouvido. " O tempo não olha pra trás", pensei. Só aí prestei atenção, o tempo passou por mim e levou lembranças que eu não soube guardar. Já não sabia mais nem do que se tratavam, minha memória já não alcançava suas essências.
Tive vontade de dizer muitas coisas ao Tempo, mas o que eu lhe diria que ele já não soubesse? Talvez fosse melhor ter perguntado sobre o amor, o trabalho, mas já era tarde- o tempo já se fora e eu não soube aproveitar. Quem sabe da próxima vez...

Um comentário:

  1. Claricelispectoriana? Não. Simplesmente o estilo de Alana. Melhor do que tê-la como "aluna" é tê-la como escritora. Nunca serei um avaliador, mas leitor de alguém que transforma a palavra em vida. Percorrer cada linha, portanto, é vivenciar a a palavra viva. Lindo. Belo. Grandioso!

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