sábado, 21 de janeiro de 2012

Sardade Asdida*


Minha mãe sempre diz: tudo são fases. De fato, com o tempo a gente percebe que as coisas, quase todas, tem seu prazo de validade, mas pra não ficar com aquele teor de fragilidade a gente chama de fases. Tem a fase em que chorar é nossa única manifestação, e dane-se os outros se quiserem entender o que precisamos, choramos e vocês que se virem; tem aquela outra em que você vira artista por andar os alguns centímetros entre a mesa e a cadeira sozinho; a fase de pegar as roupas e sapatos dos nossos pais pra brincar de ser adulto e montar nossos escritórios de mentirinha debaixo de qualquer móvel; a fase de pedir colo por qualquer coisa; a fase das brincadeiras de pique... e bom, tem a fase que a gente cresce. E aí entra a melhor de todas as fases: a escolar. Pena que aos 7, 8 anos quase ninguém sabe disso. Mas também é "uó" acordar cedo todos os dias, vestir aquela roupa que te deixa igual a todo mundo, um sapato que mais parece destruidor de pés e ter que passa 6 horas sentado numa cadeira dura olhando pra um(a) professor(a) que não faz outra coisa além de mandar todo mundo calar a boca. Pois é, quem tem saco pra isso? Não,eu também não tinha. Acontece que as circunstâncias da vida, e aquilo que uns chamam de "ciclo" levam a gente a um dia sentir falta disso tudo. 
Quem já chegou na faculdade sabe bem do que eu to falando. Um belo dia você acorda e começa a lembrar, e    esboça alguns sorrisos quando percebe que tudo era divertido. Aí dá saudade de acordar cedo, de vestir aquele uniforme (que sempre, seeempre era a roupa mais feia que a gente tinha), saudade da época de comprar material - minha favorita-, aquela em que a gente passava horas enchendo o saco dos pais pra comprar AQUELE caderno... e o momento seguinte então? O primeiro dia de aula, quando todo mundo não quer nem saber se tem ou não professor em sala, quer mais é dizer que "o meu caderno é melhor que o teu porque a capa dele é da Hello Kitty" ou então "é, eu ganhei todas as coisas do homem  aranha"... pois é, quem nunca?
Aí os dias vão passando, e a gente vai começando a fazer os grupinhos, se apaixonar, amar ou odiar os professores... e com o passar dos anos até esse clima vai mudando, mas nada melhor que aquele amorzinho de infância/adolescência, do nervosismo quando o garoto da outra série te olhou no intervalo, quando a menina da sala do lado sorriu pra você no corredor... e na época de provas? Claro, terrível ter que estudar química, matemática, física, história etc, mas depois que esse tempo passa a gente até consegue achar um ladinho legal nas imensas equações que nos faziam virar a madrugada resolvendo, ou nas fórmulas que a gente colocava naquele papel de 10 cm antes do simulado, e se desesperava ao pensar que no vestibular não ia poder fazer isso! A gente sente falta dos esquemas de cola, das broncas dos professores, do quanto a cantina da nossa escola era um roubo, dos aniversários que esperávamos o ano inteiro para que chegassem, dos momentos finais e desesperadores de cada ano- a entrega do boletim!
É claro, muitas coisas não mudam na vida estudantil quando se passa pela fera do vestibular, mas o clima, a realidade, as responsabilidades, tudo é diferente, e não sei se é um mal só meu, mas às vezes as mudanças muito drásticas me metem medo. Mas, como eu vinha dizendo, é só mais uma fase, depois de uns 4 ou 5 anos a gente vai se ver no meio de uma jornada maluca com dinheiro no bolso (o que tanto queríamos na fase anterior), mas tentando arranjar tempo pra vida- aquele tempo que tínhamos de sobra antes. Daí sempre nos resta parar numa tarde ou noite qualquer, botar uma música pra tocar e gargalhar sozinho, lembrando de cada um desses momentos que deixaram essa marquinha de "sardade asdida", às vezes uma lágrima escorre aqui ou ali porque não somos de ferro e saudade não é tão fácil de lidar, mas essa "sardade" aí que eu falo, é aquela que dá gosto de sentir, que faz a gente chorar de alegria lembrando de cada pessoa que marcou esses trechinhos de história, lembrar dos nossos erros e rir deles por ver o quanto já amadurecemos,e nos faz olhar pra frente e querer um dia, daqui a um tempo, poder novamente lembrar dos dias de hoje com essa mesma sensação... foi bom enquanto durou, porque tudo tem seu tempo certo de viver.

*Expressão que eu roubei da minha amada Poezita, dona do Cemitério de Pensamentos

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