sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Primeiros Erros

Aquela noite ela dormira triste. As lembranças, os fatos e até os planos futuros misturavam-se em sua cabeça de menina, aguçando aquela vontade que sentia de pedir ao tempo pra voltar atrás-inútil, ela sabia. A meu ver, isso se chama culpa, mas ela gosta de chamar de "dor".
Tentar dormir àquela altura era fracasso certo,seus olhosnão pregariam de modo algum, mas não custava nada deitar-se, aliás sempre sentira-se mais confortável assim. Acomodou-se, puxou para si o lençol macio e rasgado e ao pegar o travesseiro de espuma, sentiu aqueles pequenos pontos, as gotículas de lágrima que lhe escapuliram e agora umedeciam seu refugiador.
Aos poucos, com as horas caminhando no ritmo do tic-tac do relógio, ela deixou os olhos cerrarem e se entregou ao mundo dos sonhos,aquele que sempre lhe fora tãovantajoso nas horas de fuga.
Não é uma das tarefas mais fáceis descrever o que se passa na cabeça de uma criança enquanto dorme, elas libertam seua desejos mais profundos e por vezes secretos. Surgem desde bonecas de pano, até o que nós, miseráveis adultos, não podemos alcançar-somos imunes a certas ingenuidades. Mas ela, naquela noite, não sonhou o que se poderia esperar.Sua inconsciência parecia mais consciente de seus erros que seu próprio arrependimento. Ela mentira, não era certo, usando o nome dos outros então...
Mas ao longo de sua reflexão sonâmbula, chegou a conclusão de que muitas vezes é precisoperdoar a si mesmo para mudar. Assim,quando abriu os olhos na manhã seguinte, sentiu a brisa de janeiro esbarrar no rosto, graciosamente espreguiçou-se e foi até a janela na esperança de encontrar "o pai do dia". Ele estava lá, brilhante, no mais incrível e vistoso tom de amarelo, daqueles que só se vê nas caixas de lápis de cor. E driblando o ardume dos olhos, encarou-o.
Pode ser que ninguém acredite, e isso não importará, mas ele lhe sorriu, e ela, mais leve do que nunca, teve a certeza de que aquilo era uma nova chance, não para consertar os erros, mas para não repetí-los. Ou quem sabe até, repetir sim-uma, duas, dez vezes, até esse erro prender, afinal ela é só uma criança.

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