Texto dedicado à Inezita Sherman
Realejo...
Um dia, foi sem querer, eu juro, eu cruzei o caminho dela. No começo não fazia sentido. Tão difícil de entender, tão inalcançável e inescrupulosa. Tão, mas tão cheia de tudo, que às vezes até se sentia vazia. Eu tão prosa e ela tão poesia, quem diria? Ela negaria, eu sei disso. Ela tem essa mania, de negar tudo de mais belo que a compõe, de não alcançar a si mesma. Mas é que de ser grande demais, ela não se abarca. Nem alegre, nem triste, nem mais. Nada de exageros, com ela não combina. É a pura calmaria. É o alto mar depois da tempestade, a terra firme depois dos terremotos; ela não tem Sol nem escuridão, não mergulha de cabeça nos sonhos, mas vive "de mal" com a razão. Ela é paradoxo. Não aquele do "amor é fogo que arde sem se ver", e sim aquele que a gente nem consegue dizer. Intransitivo. Ela é o café amargo dos dias em que o cinza domina o céu. É o vinho tinto das noites sem ventania. O cigarro tragado com gosto pelo apaixonado. É uma das mulheres de Chico. É uma lágrima antes de cair. É a mesma lágrima que já secou. Ela não é durante, pois não sabe sê-lo, é antes e é depois. É passado e futuro, de vez em quando é presente, mas ela não se adéqua a essas urgências. Ela é céu e é mal. É um sorriso encapado de dor. Ela é o meu realejo, que me empresta alegria... É uma eufórica melancolia. Mas acima de tudo, ela é toda poesia. Quando eu digo, ela não acredita, mas ela é feita toda de verso, sem rima, sem métrica, de verso solto, de palavra cantada, de música falada, de história sem fim.
Se eu pudesse dar-lhe o Tempo de presente, eu juro que o faria, pois sei que com ele, ela se libertaria, se deixaria emanar, entregar, descobrir. Com ele, ela viajaria por todo verso e prosa que há no mundo. Encontraria, reencontraria. Ele até que é meu amigo, sabe? Mas anda meio ocupado demais, correndo de lá pra cá, sempre em frente, levando os pedaços da gente, pra deixar jogados naquele depósito lá do fundo do coração do mundo: a memória.
Então, fazer o quê? Só tenho para dar-lhe, as minhas palavras. Frágeis, fugidias, simples palavras. Tão longe de alcançarem-na... Mas vou indo pelo caminho que ela me ensinou a seguir. Cada pedaço de letra, cada fragmento de sentido... Foi ela que me ensinou. Todos a chamam de Inezita... mas, se eu pudesse transformá-la numa palavra, ela seria a Poesia; se fosse um sentimento, seria a Saudade; se fosse uma personagem, seria sempre a heroína... Toda certeza, coragem, e sensibilidade unidas num só corpo que às vezes me pergunto se é real. Eu cruzei o caminho dela, desviei seus passos, e ela me trouxe de volta, indicou o rumo certo, deixou um universo só dela pra ser descoberto. Bem aventurado aquele que se arriscar.
Texto muito lindo, ameei.
ResponderExcluirGostei do blog seguindo, se gostar segue o meu ?
http://esperandoporamor.blogspot.com/
Xoxo ;*
Que perfeição!
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