quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Das gotas que sobram

Sou daquelas que bebe até a última gota do copo. Deixo-me transbordar por dentro. Não jogo a taça fora. Não lavo a louça depois de beber. Deixo o resquício do vinho e da cachaça, do batom gasto, do perfume, da impressão digital. Guardo todas essas taças depois. Às vezes tiro da gaveta e descubro que ainda resta um gole, ou dois, quem sabe? E decido então remarcar o território, ou tentar. Mas, como disse, também tenho limites, bordas... e transbordo. Deixo derramar mesmo, fazer enchente, tomar um porre internamente. Faço das superfícies de mim, poças do que for... lágrima, chuva, cachaça ou amor. E saio desaguando por aí, derramando meu transbordamento, gritando um apelo calado por alguém que me devolva a sobriedade perdida em algum lugar.
Preciso que me sequem. Mas sequem inteira. Preciso parar de me afogar e sentir o cheiro do vapor, de ar, de solidez. Sol e dez. Dez vezes tudo que deixei de ser. Só e des. Des-apegar. Des-amar. Só desejar.

Um comentário:

  1. Vejo uma mulher crescer gradativamente no reino das palavras. E elas são tantas! O bom é saber fazer uso delas. Alana, minha Flor Bela, seja bem-vinda ao mundo dos deslimites da palavra.Te recebo com o calor do meu abraço poético.

    ResponderExcluir