sexta-feira, 12 de agosto de 2011

"Vai sem duvidar, mas se ainda faz sentido vem..."

você pode ir na janela

Quem sabe um dia toda essa verdade de hoje, esteja estampada em cartas. Não me espantaria. Meu mundo sempre foram as palavras, jogadas num papel pela primeira caneta que via na frente. As minhas confissões, e tudo que eu tive medo de fazer ou dizer, o papel entendia, ele sempre entende. Não há amigo melhor que o papel.
E daqui a pouco você se vai. Vai pra não sei quando, e pra um "onde" que nem importa, já que tão longe de mim não poderá ser mais nada.
Mas eu confio nas cartas, acredito que elas existirão e persistirão. Acredito que elas terão toda força que nós não tivemos. Nós trocaremos cartas semanalmente. Falaremos do clima nas nossas cidades do momento; do que comemos de diferente, se foi bom ou ruim; das músicas e bandas novas que descobrimos, afinal sempre compartilhamos essa coisa de música não é? Sempre gostamos dos mesmos gostos. Parece estranho dizer assim, mas é a verdade... Nossos gostos sempre foram iguais, em tudo, ou quase tudo. Falaremos da chuva, uma das nossas paixões comuns, e eu te direi que aqui ela continua vindo de surpresa, às vezes fazendo "casamento de espanhol" com o sol. Já você pode dizer que nem sempre chove por aí ou lá, não se sabe, mas nunca vai chover como aqui, e dirá o quanto sente falta dessa inconstância do tempo.
 Você falará do seu eterno projeto da banda, que encontrou ou não um baterista, e eu como sempre, te darei os parabéns e o maior apoio; falaremos das nossas novas decisões, e perguntaremos a opinião do outro sobre cada uma delas, sempre foi importante pra nós; você não falará das mulheres, mas eu com certeza perguntarei tentando aparentar o mínimo de ciúme, mas você perceberá e lerá com risos a minha pergunta, pensando se diz que continua o mesmo "galanteador" de sempre, ou não. Eu falarei do meu possível namoro- que nunca será real, tenha certeza disso- mas sentirei necessidade de falar sobre isso, sonhando que tenha um reflexo em você, assim como as suas mulheres tem em mim.
Eu direi do meu livro publicado, da minha peça em cartaz, das minhas turmas de alunos e de como ando cansada do trabalho, mas feliz. E você? Ah, você demonstrará o orgulho que tem de ser meu "amigo" e de ter compartilhado desses sonhos comigo antes que eu os realizasse. Eu vou chorar ao ler isso, sei que vou. E ainda terei a ousadia de responder-lhe dizendo que continuo a mesma chorona por besteiras.
Vou imaginá-lo sorrindo a cada leitura, preocupando-se em olhar a caixa de correio toda segunda-feira pra aventurar-se nas minhas palavras mais uma vez. Vou imaginar também você às 23h00min, quando seu irmão já estiver dormido, sentado na escrivaninha com um abajur para me responder, e pensando em cada palavra, em cada detalhe, fazendo tudo pra não me magoar, sabendo do grande amor que ainda existirá em mim.
Nós falaremos das coisas que permanecem iguais. Do seu cabelo cortado, porque grande dava trabalho demais; das minhas mensagens de bom dia, que provavelmente terão se tornado emails; da sua chatice pra comer e como isso atrapalhou você no início; da minha mania de sempre desviar o olhar quando sentia que transparecia algo; do seu sotaque, que terá mudado infelizmente; dos meus óculos, que você sempre disse que me deixavam mais bonita, mas agora eu não usaria mais; da sua barba, que eu sempre gostei; do seu jeito único de dizer "eeee" e como isso me fazia rir; do ‘do-in’ que eu fazia na sua mão e você insistia em chamar de massagem, e no quanto você adorava isso; do seu ponto fraco, que continuará sendo o cabelo, e que provavelmente não terá mais ninguém com a mesma paciência que eu de passar horas acariciando; da minha mania de ouvir todo mundo e cuidar das pessoas, deixando meus problemas de lado.
Falaremos em todas as cartas, pelo menos duas linhas, sobre O Teatro Mágico, que nesse momento já estará dividido em várias bandas independentes, e você com certeza já tocara muito com o Galldino. Mas falaremos dos tempos em que ficávamos assistindo os DVDs e cantarolando inevitavelmente as músicas.
Repetirei muitas vezes também, como era bom ver você de repente pegar o violão e tirar alguma música, fosse de quem fosse, o importante era ver o quanto seus olhos brilhavam enquanto fazia isso, e como você se libertava naquele violão.
E eu te perguntarei do seu remédio, como sempre, agora sem mais ter a melhor amiga pra dizer se estás loiro de novo, mas algo dentro de mim me dirá se estás ou não, porque no fundo, eu te conheço.
Diremos de muitas coisas, como você pode ver, e faremos muita questão de terminar todas as cartas do mesmo jeito, tanto eu quanto você: “Se cuida, que Deus te proteja. Sinto muita saudade. E, eu amo você. Muito, e de verdade.”
Mas cada um sentirá de forma diferente, como sempre. Eu continuarei sabendo que você está feliz e seguindo a sua vida, enquanto eu existo no mundo, vivo, sorrio, me alegro, conquisto, encontro e desencontro pessoas, mas o sentimento continua sobrevivendo em mim, quando deito, quando paro sozinha em algum canto e tenho algum momento pra pensar em algo que não seja o trabalho ou a felicidade das pessoas.
Não sei se vai doer tanto quanto hoje, tanto quanto doeu enquanto você estava por perto. Eu sei que continuarei sem entender exatamente o que você sentiu ou sente por mim, eu sei que vou criar todas as imagens possíveis na minha mente de como você reagirá com cada palavra minha. Sim, eu não perderei a mania de fantasiar, de sonhar. Você ainda me chamará de Ismália, eu ainda te chamarei de Filho do Tempo, de Anjo mais Velho, nós ainda faremos nossas poesias e trocadilhos carinhosos um com o outro. Mas eu serei sempre a sua amiga, e você será sempre o meu grande amor.
Assim nós existimos. Pois assim como o verbo amar, o verbo existir também tem a mesma conjugação no pretérito e no presente em se tratando de “nós”, provando que somos ciclo, que nunca finda, somos contínuos, constantes e para sempre, até quando o sempre puder ser chamado assim.

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