quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

"Num passado remoto perdi meu controle"

Faço parte de uma juventude antiga, que hoje só se encontra em fotos ou reportagens de jornal. Faço parte de um tempo em que as crianças valorizavam os mais velhos, e em que mais velho era qualquer pessoa com 1 ano a mais que a gente.
Ainda fiz parte de um tempo em que se podia andar de patins e bicicleta no meio da rua aos domingos porque mal se via carros. E nesse tempo, quem tivesse se comportado durante o ano podia pedir um presente mais caro ao Papai Noel- uma Bárbie ou um carrinho de controle remoto. Ninguém com menos de 15 anos ganhava celular e computador era algo que a gente só mexia nas aulas de informática ou pra jogar paciência e campo minado.
Sou da última geração que curtiu realmente Tom e Jerry,Mickey, os gibis da Mônica, Castelo Rá-Tim-Bum, e que cantava Ilariê e Lua de Cristal nas festas de aniversário. Sou de uma geração que chorou quando morreram os Mamonas Assassinas e que não entendeu o porquê da depressão mundial com a queda das Torres Gêmeas. Nessa época, a gente achava que "guerra" era aquilo que passava no Dragon Ball Z e no Mortal Kombat, até mesmo no Power Rangers. E palavra difícil de pronunciar era "paralelepípedo" porque "estupro" ninguém sabia o que era então nem tentava falar.
E mais, levávamos bronca por falar "égua" porque era palavrão! Foi uma época cheia de sonhos, em que perguntavam nos seus 6 anos o que você iria ser quando crescesse e as respostas geralmente eram ligadas às atividades extra-colégio - bailarina, jogador de futebol, lutador de karatê... Vivemos um tempo em que nosso único compromisso era o de ser criança e ter uma infância feliz. E tivemos!
Mas aí nós fomos crescendo, e uma tal de tecnologia veio com todo o seu poder de persuasão e mudou a nossa vida, nossos costumes, nossos ideais. Transformou a nossa geração e levou embora toda ingenuidade e traquilidade remanescentes daquele tempo, arrancando das "novas crianças" a chance de curtirem o que nós curtimos.
Tornamo-nos indivíduos cheios de vícios, acomodados, satisfeitos com a inútil condição de ser jovem, gastando horas do dia em frente a uma tela de computador lendo e escrevendo sobre a vida dos outros. Perdemos o ímpeto da luta, da reivindicação tão propícia em nossa idade, esquecemos em qualquer canto a vontade de mudar nossa sociedade pra melhor.
Os "adultos" sempre disseram que os jovens são o futuro da nação. Eu me pergunto: que futuro teremos sendo os jovens que somos? Levaremos esta nação a algum lugar? Conseguiremos levantar da cadeira e dar um esc na nossa mania de só esperar que façam por nós?
Eu, sinceramente, espero que sim. Em mim ainda persistem a esperança e a coragem da infância, e a crença de que a qualquer momento todos vão olhar para si e perceber quanto tempo tem perdido com sua própria alienação. E talvez quando isso acontecer, a gente consiga trazer de volta um pouco daquela época para as crianças de hoje e mostrar que embora muita coisa tenha mudado e o excesso de informação tente nos provar o contrário, ainda somos capazes de resgatar a consciência crítica do lixo, e nos tornarmos verdadeiramente humanos.

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