Faço parte de uma juventude antiga, que hoje só se encontra em fotos ou reportagens de jornal. Faço parte de um tempo em que as crianças valorizavam os mais velhos, e em que mais velho era qualquer pessoa com 1 ano a mais que a gente.
Ainda fiz parte de um tempo em que se podia andar de patins e bicicleta no meio da rua aos domingos porque mal se via carros. E nesse tempo, quem tivesse se comportado durante o ano podia pedir um presente mais caro ao Papai Noel- uma Bárbie ou um carrinho de controle remoto. Ninguém com menos de 15 anos ganhava celular e computador era algo que a gente só mexia nas aulas de informática ou pra jogar paciência e campo minado.
Sou da última geração que curtiu realmente Tom e Jerry,Mickey, os gibis da Mônica, Castelo Rá-Tim-Bum, e que cantava Ilariê e Lua de Cristal nas festas de aniversário. Sou de uma geração que chorou quando morreram os Mamonas Assassinas e que não entendeu o porquê da depressão mundial com a queda das Torres Gêmeas. Nessa época, a gente achava que "guerra" era aquilo que passava no Dragon Ball Z e no Mortal Kombat, até mesmo no Power Rangers. E palavra difícil de pronunciar era "paralelepípedo" porque "estupro" ninguém sabia o que era então nem tentava falar.E mais, levávamos bronca por falar "égua" porque era palavrão! Foi uma época cheia de sonhos, em que perguntavam nos seus 6 anos o que você iria ser quando crescesse e as respostas geralmente eram ligadas às atividades extra-colégio - bailarina, jogador de futebol, lutador de karatê... Vivemos um tempo em que nosso único compromisso era o de ser criança e ter uma infância feliz. E tivemos!
Mas aí nós fomos crescendo, e uma tal de tecnologia veio com todo o seu poder de persuasão e mudou a nossa vida, nossos costumes, nossos ideais. Transformou a nossa geração e levou embora toda ingenuidade e traquilidade remanescentes daquele tempo, arrancando das "novas crianças" a chance de curtirem o que nós curtimos.
Tornamo-nos indivíduos cheios de vícios, acomodados, satisfeitos com a inútil condição de ser jovem, gastando horas do dia em frente a uma tela de computador lendo e escrevendo sobre a vida dos outros. Perdemos o ímpeto da luta, da reivindicação tão propícia em nossa idade, esquecemos em qualquer canto a vontade de mudar nossa sociedade pra melhor.
Os "adultos" sempre disseram que os jovens são o futuro da nação. Eu me pergunto: que futuro teremos sendo os jovens que somos? Levaremos esta nação a algum lugar? Conseguiremos levantar da cadeira e dar um esc na nossa mania de só esperar que façam por nós?
Eu, sinceramente, espero que sim. Em mim ainda persistem a esperança e a coragem da infância, e a crença de que a qualquer momento todos vão olhar para si e perceber quanto tempo tem perdido com sua própria alienação. E talvez quando isso acontecer, a gente consiga trazer de volta um pouco daquela época para as crianças de hoje e mostrar que embora muita coisa tenha mudado e o excesso de informação tente nos provar o contrário, ainda somos capazes de resgatar a consciência crítica do lixo, e nos tornarmos verdadeiramente humanos.
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